sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Olha só o que está chegando!!!!!!

Eu, como todo sertanejo que teve a chance de estudar, venho a muito tempo matutando e mastigando a ideia de escrever um livro. Já tenho até o nome: " CAUSOS, POTOCAS E EMBOLADAS",  que fale sobre o dia a dia da vida nesse sertão, nesse semi-árido tão rico em tipos folclóricos, cada figura que só de pensar o espírito já sorri, com seus "causos " estapafúrdios, suas histórias maravilhosas passando de pai para filho, cada um aumentando "um ponto no conto", com seu comportamento malandro, histórias para enganar dotô, sabedorias mil e muitas assombrações, caçadas maravilhosas e pescarias que só Deus sabe ( e consente....porque Deus é alegre  e compreensivo com seu povo e principalmente com seus caboclos sertanejos).

Olha só a que chegou , neste segundo dia do blog: ( Vou mudar os nomes todos )


José Amarildo, caboclo trabalhador, comprador de gado do sertão, que de tanta labuta ganhou um bom dinheiro, foi pro sertão do Piauí porque soube que em virtude da entrada da seca o gado baixara de preço, levando consigo seus três funcionários, bons no trato com o gado, e manhosos na condução de tropa de mulas, e seu capataz Rosino, cabra desassombrado, pau para toda obra, valente como todo varzeano deve ser.
Na cidade de São Raimundo Nonato, compraram cinco mulas boas de sela e mais dez mulas de carga, que carregaram com charque, farinha, rapadura, café e tudo mais para um período de andança no sertão, faiscando um bezerro aqui, outro acolá, aprontando uma boiadinha para trazer para vender.
Zé Tenório, caboclo que vendeu as mulas, chamou José Amarildo e disse:" tenho aqui uma mula baixa, meio birrenta, cheia de sestros, mas é o mió animá de caminhada que já passou pelas minha mão. Se o sinhô  José tivé pacença de cabá de domá, vai tá muito bem montado". José Amarildo olhou a mula desconfiado, passou a mão no lombo ela murchou as orelhas, rodou agitada, mas ele gostou e comprou. E começaram a viagem e a mulinha dando um  trabalho terrível, e a espora comendo e a mulinha cabeando, mas, macia e boa de passo que nem ela só.

Passaram a cidade de Anísio de Abreu, já com uns cinquenta bezerros comprados, e tomaram a direção do sertão da Jurema, quase 20 léguas de terra sem água e sem gente, para ir na fazenda do compadre Pedro Bento, que havia separado uns 20 mamotinhos para vender, e que era parada obrigatória da tropa todo ano.

Chegaram lá, naquela festa de sempre, hospitalidade sertaneja, soltaram a boiada em uma manga com resto de bom capim, as mulas comendo o capim estrela da malhada, e foram preparar o jantar e o rancho para a dormida.
De manhã bem cedinho, prenderam o gado, acertaram a venda dos mamotes, José Amarildo pagou a dinheiro, tomaram café, arrearam as mulas, com a mulinha inquieta sempre cabeando, juntaram o gado e prepararam a partida, Rosino na frente tocando o berrante e  os outros seguindo a boiada e a tropa .

Quando estavam saindo, Seu Pedro Bento gritou José Amarildo e lhe disse: " Cumpade, esqueci de lhe falar,
Adiante sua viagem hoje pelo maior estirão que você puder, até passar daquela matinha que tem os pés de aroeira na entrada, porque uma danada de uma onça pintada já comeu essa semana duas bezerras minhas e um caboclo que perdeu um tiro nela disse que é a onça mais alta que ele já viu. Como o senhor tá com uma boiada já grande , as mulas e pouca gente , é bom ter cuidado.

José Amarildo agradeceu e tocou a espora na mulinha, que baixou as orelhas, deu duas upas e saiu naquele passo macio que compensava a rebeldia.

Tocaram a boiada o dia todo e quando escureceu tinham acabado de passar pela matinha e José Amarildo achou que era hora de armar o acampamento para a noite. Colocaram a boiada em um descampado perto, com os chocalhos na vaca madrinha, e resolveram deixar as mulas de montaria amarradas por  perto, por prevenição.
Prepararam a comida, tomaram o café , rodaram o gado que estava calmo e foram deitar, para acordar boca da madruga.
Lá pelas três horas da manhã, acordaram com os chocalhos batendo, as mulas zurrando e o berro da onça estremecendo o chão. Uma escuridão de breu, que ninguem enxergava nada, os bichos agitando, peão sem saber o que fazer, e José Amarildo pulou do cobertor e gritou : Vamo embora moçada que nem peão meu,nem gado vai ser comida de onça, e correu para o lugar onde tinha deixado a mulinha amarrada e agarrou pelas orelhas e a mulinha pulou e se sacudiu e ele, caboclo forte, ficou agarrado e gritou Rosino, me ajude a selar esta peste que amanheceu endiabrada. Rosino correu, pegou a sela, jogou no lombo da bicha no escuro, quando passou a cilha tomou um coice que mais parecia uma unhada e José Amarildo montou e a bicha saiu dando cada upa enorme que só não derrubou José porque o cabra era um peão arretado e a boca do dia foi raiando e prá espanto de todos  olhe  em quem o  José Amarildo  estava montado:

NA ONÇA.

É demais.
Veja no que dá eu pedir para me mandarem até" potocas".

Demais, né? É a alma do sertanejo.

Até a próxima.

Lembrem-se sempre de Deus, fonte de tudo que é bom. Vivemos pela sua graça e misericórdia.

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